Os recursos humanos são um dos principais eixos de um sistema eficiente de segurança, visando reduzir os riscos de uma organização. Espera-se que a equipe de segurança, formada geralmente por porteiros e vigilantes, esteja sempre atenta e pronta para reagir em caso de ameaças. Infelizmente, isso nem sempre é uma realidade. Estamos falando de seres humanos, com limitações biológicas e que sofrem a influência do meio ambiente em que estão inseridos.
Nesse artigo, iremos abordar as causas da fadiga da equipe de segurança, os riscos inerentes a isso e como os gestores podem gerenciar essa questão, visando reduzir os problemas gerados por isso.
ESCALAS DE TRABALHO
Imagine trabalhar doze horas seguidas, precisando manter a atenção e muitas vezes necessitando permanecer de pé por um longo período. Agora, imagine trabalhar assim e sem nenhum dia de descanso, durante um mês inteiro. Cansativo, não? Pois essa é a realidade de muitos vigilantes e porteiros, responsáveis pela segurança de condomínios, empresas e fábricas espalhadas pelo Brasil.
Por questões trabalhistas e de custos, a escala 12×36 (trabalha 12 horas e descansa 36 horas) tornou-se a escala legal mais praticada pelos funcionários de segurança, com exigência de serviços 24 horas de Segunda a Domingo. Esse tipo de escala permite ao funcionário trabalhar em duas empresas diferentes, tendo como objetivo aumentar a sua renda individual, tendo em vista que o regime de escala 12×36 não proporciona horas extras. Entretanto, trabalhando em duas empresas o funcionário acaba não tendo descanso, o que torna a solução insustentável no longo prazo. Ou ele irá faltar em um dos dois empregos, ou irá gerar problemas no posto de trabalho, colocando em risco a segurança do local.
TRABALHO NOTURNO
O trabalho noturno é uma exigência para qualquer equipe de segurança. No entanto, estudos comprovam que durante esse turno a produtividade e eficiência decaem e, consequentemente, os riscos aumentam.
Por questões biológicas, o ser humano foi feito para trabalhar de dia e dormir à noite. Quando essa situação é invertida, o resultado pode ser catastrófico para o descanso. Segundo James C. Miller, que desenvolveu alguns estudos sobre o tema na área de segurança, os seres humanos possuem pelo menos 4 sistemas que atuam à noite em nosso cérebro e nos estimulam a dormir. Entre eles, destacamos o ciclo circadiano e a homeostase biológica que funcionam de forma similar a um “termostato” de sono, que nos levam a dormir. Esses sistemas trabalham de forma conjunta para nos manter alerta durante o dia e com sono durante a noite.
Estudos demonstram que precisamos dormir pelo menos 8 horas por dia e que, quando isso não acontece, vamos gerando um déficit que, em algum momento precisará ser suprido. Isso é particularmente preocupante para os trabalhadores noturnos que necessitam dormir de dia, contrariando suas características biológicas e tendo que lidar com excesso de luminosidade e barulho, dificultando o sono que irá descansá-lo.
ESTRESSE E ESTRUTURA DE TRABALHO
Outros pontos importantes, para serem levados em conta na fadiga da equipe de segurança, referem-se ao estresse inerente às particularidades da função e à estrutura do local de trabalho. Os profissionais de segurança podem trabalhar em situações de risco permanente com atuações de criminosos de forma periódica. Isso leva os funcionários a níveis de estresse muito altos por um longo período de tempo, o que além de ser prejudicial à saúde no longo prazo, gera situações de desmotivação e cansaço constantes.
Além disso, a estrutura no local de trabalho pode influenciar diretamente o nível de fadiga da equipe. Estamos nos referindo a questões relacionadas a ergonomia da cadeira, tempo em que o funcionário precisa permanecer em pé, proteção contra intempéries (chuva, frio, sol e vento), uniformes adequados e EPIs de segurança do trabalho, banheiros adequados e vestiários para troca de roupa e guarda de bens pessoais. Esses pontos são muito importantes e podem amenizar a rotina cansativa dos profissionais.
COMO GERENCIAR A FADIGA DA EQUIPE DE VIGILÂNCIA
Geralmente, quando se flagra um vigilante ou porteiro dormindo durante o turno de serviços ou que cometa alguma falha por estar muito cansado, a postura dos gestores é de punição ou até mesmo de substituição dos funcionários. São poucas as organizações que procuram entender a fundo o problema, buscando as raízes para enfrentar a questão. É mais fácil dizer que o profissional é preguiçoso e que não serve para a função. E aí se busca um novo vigilante ou porteiro e o problema se repete.
Desta forma recomendamos as seguintes abordagens aos gestores de segurança no enfrentamento da questão:
1. CONVERSE INDIVIDUALMENTE COM OS PROFISSIONAIS
Procure entender a realidade de cada profissional. Identifique se ele possui dois empregos, entenda seus hábitos de alimentação e de sono, suas necessidades financeiras, seus problemas familiares e o tempo de deslocamento até o posto.
2. LEVANTAR INFORMAÇÕES SOBRE O POSTO/LOCAL DE TRABALHO
Analise a estrutura do local de trabalho, levantando informações sobre escala de trabalho, condições gerais e outras variáveis que podem afetar a motivação e a fadiga dos funcionários, conforme já citamos anteriormente
3. PLANO DE AÇÃO INDIVIDUAL
Tendo como base a conversa individual, elabore um plano de ação para tentar enfrentar a questão da fadiga da equipe de segurança. Seguem algumas sugestões de ações que podem ser tomadas:
a) Se existir orçamento, remunerar melhor os funcionários, evitando o duplo emprego e a consequente falta de descanso e/ou jornadas extensas. Se o funcionário tiver algum problema financeiro pontual, verifique se é possível fornecer um empréstimo ou ajudá-lo de alguma forma, como por exemplo, adiantando o 13o salário.
b) Se possível, faça rodízio dos funcionários pelos locais de trabalho, alternando locais mais tranquilos com locais que gerem mais estresse ou sejam mais cansativos.
c) Proporcione intervalos de descanso durante a jornada de trabalho, com espaço para uma breve “cochilada”. Apesar de não ser o ideal, poderá minimizar os efeitos de sono.
d) Realize trabalhos educacionais sobre como dormir melhor, melhorar a alimentação e a prática de exercícios físicos. Estimulando os funcionários a terem uma rotina mais saudável e regrada, você irá ajudá-los a dormir melhor e ficarem menos cansados e estressados.
e) Invista em campanhas preventivas contra o abuso de álcool. Segundo estudos, o álcool além de outros malefícios, pode ser muito prejudicial ao sono.
f) Invista na infraestrutura do posto, permitindo um ambiente de trabalho agradável, confortável e estimulante. O trabalho de cromoterapia em ambientes de trabalho pode ajudar nesse processo, acalmando ou estimulando as pessoas. Se possível, disponibilize café para os funcionários.
g) Procure respeitar o prazo de 12 meses para as férias.
f) Analise a questão de tempo e meio de transporte do funcionário de sua residência ao local de trabalho. Caso seja muito distante e demorado, verifique se existem formas para amenizar o problema. Se for o caso, verifique a possibilidade de uma moradia mais próxima ou a possibilidade de transferi-lo para algum outro local mais próximo de sua casa.
g) Evite trabalhar com Folga Trabalhada.
Como se vê, a fadiga da equipe de segurança é algo muito sério e um desafio para os gestores de segurança. A abordagem desse problema deve ser constante e feita de forma individual e consistente. Não se pode tratar a questão de forma simplista, achando que o problema está relacionado ao “caráter” do funcionário, que é definido como preguiçoso ou desatento. Lembre-se que uma equipe de segurança cansada é uma ameaça muito séria a sua empresa ou condomínio, podendo colocar em risco o patrimônio e a segurança das pessoas.
Espero que tenham gostado do assunto. Para mais informações sobre nossos serviços e sobre a forma de atuação da ASTER, não deixe de visitar o nosso site.